quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

A atualidade do Príncipe para Obama


Cada vez que releio "O príncipe" de Nicolau Maquiavel, fico surpreso com a aplicabilidade do texto em questões políticas atuais. Desta vez o insight foi em relação à reforma do sistema de saúde americano proposto por Obama.

Atualmente o sistema de saúde ianque é assim: 110 milhões usufruem de assistência pública, especialmente idosos e crianças, através dos programas Medicare e Medicaid; 140 milhões são atendidos pelo sistema privado; 40 milhões não possuem sistema nenhum. O fato é que o custo da saúde pública dos EUA enfrenta um déficit enorme, mas no país da liberdade, quem pode pagar pelo sistema privado defende que não tem nada com isso. Entretanto, uma das propostas de campanha de Obama, que aliás, já estava esboçada no seu livro "A audácia da esperança", é justamente a reforma do sistema de saúde, coisa que Bill Clinton, o último democrata no governo, também tentou fazer mas acabou dissimulando devido a gritaria. Mas parece que Obama não vai desistir, sobretudo por que tem obtido avanços na proposta... Aqui entra Maquiavel.

"Deve-se considerar não haver coisa mais difícil para cuidar, nem mais duvidosa a conseguir, nem mais perigosa de manejar, que tornar-se chefe e introduzir novas ordens. Isso porque o introdutor tem por inimigos todos aqueles que obtinham vantagens com as velhas instituições e encontra fracos defensores naqueles que das novas ordens se beneficiam. Esta fraqueza nasce, parte por medo dos adversários que ainda têm as leis conformes a seus interesses, parte pela incredulidade dos homens: estes, em verdade, não crêem nas inovações se não as vêem resultar de uma firme experiência. Donde decorre que a qualquer momento em que os inimigos tenham oportunidade de atacar, o fazem com calor de sectários, enquanto os outros defendem fracamente, de forma que ao lado deles se corre sério perigo." (MAQUIAVEL, cap. VI).

Embora a reforma do sistema de saúde tenha sua demanda, modificar esta instituição tem se mostrado algo perigoso para o governo de Obama e dos democratas. O que pode ser notado na queda ruidosa no índice de popularidade do presidente norteamericano, bem como nas recentes derrotas eleitorais do partido que ele representa, sinais do "ataque dos inimigos".

Ademais, o príncipe negro símbolo da esperança, sob o olhar de Maquiavel, também falha por cometer um dos dois erros imperdoáveis a quem está no comando: meter a mão no bolso alheio. Isto é, quem pode pagar pelo sistema privado não quer pagar pelo sistema público. Mas fico pensando: isto é o que todos já sabiam de antemão, portanto, os insatisfeitos deveriam ser apenas os republicanos, ou seja, aqueles que defendem o "cada um por si e a liberdade econômica por todos". Se o índice de impopularidade vem aumentando, é bem provável que alguns eleitores democratas desavisados ou mal entendidos politicamente e especialmente os que tinham planos de saúde privada, ao finalmente perceberem as intenções estatizantes de Obama nesta área, decepcionaram-se e agora mudaram de ideia quanto ao governo.

Se a proposta de Obama trouxer mais benefícios do que prejuízos individuais, o processo pode ser revertido. Em minha opinião, é nisto que Obama, como idealista que é, está acreditando. Desde que não cometa o outro erro imperdoável ao príncipe, acho que colherá os louros do Império...

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